sábado, 28 de junho de 2008

Três Homens em Conflito - Felipe Tavares



Buono, Il Brutto, Il Cativo.
Direção: Sergio Leone
Itália – 1966
160min




“Três homens em conflito” é o que eu chamaria de interação ideal de produção, direção atuação e principalmente de som, que é meu principal foco. A julgar pelo formidável conjunto da obra do músico Italiano Ennio Morricone e pelas influencias cinematográficas de Sérgio Leone, posso prever um resultado tão interessante quanto o demonstrado neste filme. O que não posso prever é o roteiro escrito por Age-Scapelli, Luciano Vincenzoni e Sergio Leone, que me surpreende a cada intenção e movimento de câmera.

A estória se passa durante a Guerra civil norte-americana e mostra a união (absolutamente ocasional) de três brutos pistoleiros do oeste em busca de um tesouro. Ocasional porque, bem como é o título original do filme (Il buono, il brutto, il cativo), os três são muito diferentes entre si, similares apenas na bruteza e no desejo de encontrar o ouro, sem um latente desejo de reparti-lo com o próximo.

Pois bem, observemos agora o som de fato e o modo preciso e significativo que ele pontua as cenas e ações. No início do filme (bem como em todo ele) tem o som dos disparos da pistola anunciando os créditos e identificando quem é o bom, o mal e o feio.
Esse som parece idêntico para todos os tipos de armas e faz ricochete mesmo quando não ricocheteia em nada, como se esses disparos quisessem desenvolver uma estética criativa (convenhamos, nem tão criativa assim) de filme western.

Morricone também cria essa formidável trilha sonora e a mantém em harmonia com todas as cenas e transições, do início ao fim. A musica tema transita por todo filme diminuindo e se estendendo de acordo com o corte dos planos, das cenas e quase que totalmente com as intenções dos personagens.

Em determinado ponto do filme (quando a orquestra da rua começa a tocar) tenho a impressão de confundir som diegético com o não diegético, e vice-versa.

Há também uma exploração e uma experimentação do som na própria narrativa de modo inventivo. Disparos que na maioria das vezes matam, podem salvar também. (A cena em que o personagem de Eastwood foge de Tuco pelo disparo do canhão e da marcha dos soldados)

O som acrescenta e muito no caráter cômico do filme, e apresenta um tempo ideal na caricatura e na ironia dos pistoleiros.

Morricone aumenta gradualmente a dramaticidade e o afeto desenvolvidos por tuco e o personagem de Eastwood no decorrer do filme por meio da trilha sonora. Ele nos insere quase que intimamente na vida de Tuco na cena em que ele encontra o irmão que é padre.

De maneira relativa, percebo um clima melancólico na trilha de Ennio Morricone. Acordes instrumentais lentos e suaves melodias de violino se confundem com a paisagem desértica e horizontes vazios.

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