sábado, 28 de junho de 2008

Querida Wendy - Felipe Tavares


Dear Wendy
Direção: Thomas Vinterberg
Dinamarca/Alemanha/Inglaterra/França – 2005

105min


Dirigido por Thomas Vinterberg e escrito por Lars Von Trier, “Dear Wendy” é quase uma fábula narrada que mostra o relacionamento afetivo de um grupo de jovens com suas armas de fogo. Eles vivem numa pequena comunidade onde ser mineiro era a prova da cidadania e da realização profissional. Mais ainda, era a chance dos jovens virarem homens.O grupo de jovens que tem como protagonista o ator Jamie Bell, não conseguem ou não querem se adaptar às regras de Electric Park e o modo que encontram de provar seu valor é portando armas. Eles criam o que mais se assemelha a uma seita de adoração às armas. Ditam regras, escrevem poemas e nomeiam suas próprias armas.

Existem vários conceitos de mise-en-scène (a do teatro, do cinema e da televisão) no filme, mas entendendo a terminologia como uma conjugação de elementos como cenografia, iluminação, interpretação e som posso dizer que Vinterberg apresenta um estilo diferenciado de Jean Renoir e outros diretores do chamado “cinema arte”, que fazem grandes planos seqüência e colocam um grande número de atores interagirem neste espaço cênico.

No caso de Vinterberg, existem esses espaços estereotipados em que rondam os personagens. Mas é um tipo muito consciente e criativo de mise-en-scène no que diz respeito ao microcosmo em que os atores se inserem. Pode-se ai, fazer uma comparação com a mise-en-scène do teatro, que se preocupa em demasia com a distribuição, a eleição do vestuário e pontos externos que podem ou não ligar o ator à obra.

Não estou afirmando a primazia ou a restrição de um ou outro estilo, mas citando pontos de referencia para que possamos distinguir de modo inequívoco as análises da mise-en-scène.

O que está posto em cena ou frente à câmera nos ajuda a entender (em parte) as intenções do criador, sejam elas realistas, naturalistas ou meramente ficcionais.

Não confundamos ai, realismo com verossimilhança, pois a composição pode não ser realista, mas alguns elementos podem ser justificados no decorrer da história que pode refletir num resultado verossímil. Ou seja, o espaço cênico poderia ser anacrônico ou equivocado, mas a intenção dos personagens e a reflexão do criador podem também ser verossímeis.

Pois bem, outro ponto interessante do filme são seus objetos cênicos, que pontuam de forma indireta ou indireta a narrativa. Neste, as armas representam boa parte das intenções dos personagens e marcam a continuidade de suas ações.

Lars Von Trier cria um estilo quase inusitado de se provar a mise-en-scène. Ele abdica de todo o potencial naturalmente dinâmico no cinema e se satisfaz com o pequeno universo. Possibilidades de trocas do tamanho dos planos e dos cenários não são tão ignoradas em “Dear Wendy” quanto em “Dogville”, mas são tão evidentes quanto.


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