domingo, 29 de junho de 2008

Beleza Americana - Fernanda Amaral Silveira


American Beauty
Direção: Sam Mendes
EUA – 1999
121min




"Olhe bem de perto"... Esse subtítulo do filme, que aparece na capa, já nos dá uma idéia do que fazer ao ver o filme e o que fazer na vida. De perto ninguém é normal. Especificamente o povo norte-americano, o qual retrata o filme. Ele quebra com a fantasia, a utopia que é o "american dream", aquela idéia de que tudo é perfeito, a família é perfeita, e desmistificar a frase "para se ter sucesso, deve-se projetar uma imagem de sucesso o tempo todo".


"Beleza Americana" é fantástico ao mostrar primeiro a imagem que a pessoa passa ou quer passar, e depois o "verdadeiro eu" dessa pessoa. Mostrando a complexidade e a beleza de cada personagem. Esses personagens quando os vemos pela primeira vez podemos até pensar que são apenas fictícios, parte de um filme, ou da cultura americana e nada mais. Mas se formos analisar, "olhar bem de perto", perceberemos que eles se parecem com todos nós, com o povo brasileiro e outras culturas também. A hipocrisia que vive a nossa sociedade. O tempo todo nos preocupamos em mostrar uma imagem de sucesso, pessoas felizes, e, no entanto a maioria amarga uma vida estressada, nada parecida com a imagem que quer projetar, e muitas vezes infelizes.


O filme ainda pode ser considerado recente, é de 1999, e condiz com a nossa atual realidade.


"Beleza Americana" gira em torno do personagem Lester Burnham, vivido pelo ator Kevin Spacey, que atuou esplendorosamente, e inclusive recebeu o Oscar de Melhor Ator. O filme começa já falando que falta menos de 1 ano para ele morrer, e mostra as situações bizarras que aconteceram na vida dele e das pessoas ao seu redor. Cenas não só bizarras, mas intensas, reflexivas, e contraditórias.


Figuras como um fuzileiro naval reformado, pai de família, e gay enrustido; uma mulher que vende imóveis, é dona de casa, é mãe, todo o tempo pensa e quer ser perfeita, e no final se mostra uma pessoa completamente insegura e infeliz, com o casamento desmoronando; um filho maltratado pelo pai, que faz o pai acreditar que ganha dinheiro honestamente como garçom em bufês quando na verdade ganha a maior parte do seu dinheiro vendendo maconha; uma adolescente revoltada, que sonha em fazer cirurgia plástica nos seios, e tem nojo do próprio pai por ele "dar em cima" de suas amigas; uma adolescente que faz uma imagem de que é muito linda e de que todos a desejam, fica falando de todas as suas transas para todo mundo, quando no final se descobre que é virgem e insegura; faz do filme, algo misterioso, intrigante, que nos faz ficar curiosos do começo ao fim em saber o que farão, quem são eles, o que vai acontecer entre eles.


Curioso também é a fantasia, o desejo que tem Lester Burnham em relação à amiga de sua filha Jane, a Angela Hayes. O filme encena suas fantasias e mostra ao público toda a emoção do momento. Cada vez que isso acontece, aparecem pétalas de flores vermelhas caindo, saindo de sua boca, cobrindo o corpo de Angela etc. A fotografia do filme é incrível, principalmente por conta dessas cenas de fantasia de Lester Burnham.


Uma curiosidade: American Beauty, que é o nome original do filme, em Inglês, é o nome dessa flor que aparece, e ela não tem cheiro nem espinhos. Os produtores a usaram como analogia ao vazio que é o estilo de vida típico americano.


A frase dita no título desta crítica, "nunca subestime o poder da negação" é falada no filme, para explicar como as pessoas negam a si mesmas aquilo que não querem ver ou aceitar. Só vêem o que querem ver. Só ouvem o que querem ouvir. As pessoas acham que são de determinada maneira porque passam a acreditar naquela maneira que estão tentando viver, e não quem realmente são. No filme isso fica bem claro.


Apesar de criticar em cheio o orgulho do povo norte-americano, ele ganhou 5 Oscars, incluindo Melhor Filme, e está na lista dos 10 filmes mais queridos dos Estados Unidos da América. Uma contradição? Uma parada de reflexão? Uma mudança? Ou somente que o resultado da pesquisa mostra e comprova que os norte-americanos são realmente como no filme, e eles se identificaram com isso? Bem, isso é algo a se pensar...


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