sábado, 28 de junho de 2008

Estrada para Perdição - Lígia Ferraz


Road to Perdition
Direção: Sam Mendes
EUA – 2002

117min




Estrada para Perdição (2002) é o segundo filme de Sam Mendes. Após Beleza Americana (1999), o diretor continua com o tema familiar e com o mesmo diretor de fotografia, mas faz um trabalho exemplar e completamente diferente do primeiro sucesso. Do roteirista David Self, Estrada para Perdição conta a história de Mike Sullivan, um gângster que passa a ter a sua vida e de seu filho, Michael Sullivan Jr., ameaçadas após este ter presenciado a matança que a profissão do pai, até então secreta, exigiu fazer. Fugindo para Perdição, a metáfora explicitada revela o filme: é para lá que todos vão.

O som leve de Thomas Newman e John M. Williams, contrapõe à fotografia sombria e trás à Estrada para Perdição um filme que não prioriza a perseguição entre gângsteres, mas sim a construção de uma relação nova entre pai e filho. Protagonizados por Tom Hanks e Tyler Hoechlin, pai e filho começam aprender a conviver a partir da ajuda que Michael dá ao pai nos últimos trabalhos que devem ser feitos antes de irem para Perdição.

No início do filme, onde ainda está apresentando os personagens, a trilha é sombria e tensa, mas ao decorrer da história, ela se torna mais suave e, algumas vezes, surge em tom cômico, como na cena em que Mike tenta ensinar o filho de doze anos a dirigir pela primeira vez. O som evita a constante tensão que a própria situação que eles se encontram exige.

O som e a fotografia aparecem em contraste o tempo inteiro, mas não assume uma incoerência no filme, pelo contrário, elas se manifestam em forma de equilíbrio, evitando que o filme seja uma comédia ou um drama familiar. Apesar da relação entre os dois nascer em um tom mais tranqüilo, não pode deixar passar despercebido o fato que estão fugindo daqueles que sempre os protegeram e que ao mesmo tempo em que roubam deles, também matam em nome da vingança.

Estrada para Perdição também trabalha bastante com o silêncio. Em momentos de diálogos ou em situações importantes há o silêncio total ou apenas o som de algum barulho significativo. Acredito que a cena mais importante relacionada a isso, é o último serviço que Mike Sullivan faz para enfim poder partir com Michael: matar o seu chefe (John Rooney/Paul Newman), aquele que sempre o protegeu como um filho.

A cena é sombria e tensa, os homens de Rooney estão saindo do carro, o plano é aberto e regido pelo silêncio e pela sombra, caem um a um entre uma luz branca que sai da arma de fogo e quase preenche a tela. Vendo que Rooney está entre eles mas não é acertado nenhuma vez pelos tiros, o espectador de alguma maneira torce para que ele saia ileso, mas não. Mike, enfim, mata seu “pai” e após banhado no silêncio anterior, o som do tiro ensurdece o espectador.

A falta do som nessa cena colabora para a construção de um filme menos violento, não foi preciso ouvir os tiros para entender a tensão dramatúrgica da cena. Em nenhuma das mortes há sangue por todos os lados nem grandes barulhos das armas, como há em O Poderoso Chefão, e isso com certeza colabora para que a história se volte para a ingenuidade da relação dos dois, e não para a violência das cenas de gângsteres.

No decorrer do filme a tensão vai se tornando amena. Ao final já nos esquecemos das barbáries que Mike cometeu, e torcemos para que ele viva. Na cena final se ouve, novamente, em off a narração que Michael faz no início do filme, e apenas os poucos tiros que são trocados espaçados por grandes intervalos de silêncio preenchem o branco, vermelho e marrom daquele quarto vazio.
Sam Mendes e David Self são dignos de uma história como Estrada para Perdição. O grandioso trabalho dos autores e atores é inquestionável em um filme no qual o espectador não consegue tirar os olhos da imagem, é levado pelo som de uma maneira quase imperceptível e se emociona com a relação que logo que nasce, acaba.

Nenhum comentário: