sábado, 28 de junho de 2008

Bubble - Samara Deboni


Direção: Steven Soderbergh
EUA – 2005
73 min



Bubble é “another Steven Soderbergh experience” que deu certo. Primeiro comecemos pelo título, ele já nos diz muito sobre o filme. Aquelas pessoas moram em uma bolha. Aquela cidade é uma bolha de onde eles nunca saem. Soderbergh conseguiu um equilíbrio de personagens que cumprem sua função individual na concretização da narrativa, porém são profundos e ambíguos. Martha é uma mulher solidária e prestativa que cuida do pai que está doente e todos os dias dá carona para seu colega Kyle até o trabalho. Eles trabalham em uma fábrica de bonecas numa cidadezinha de interior e não demonstram a ambição de mudar de vida. O conflito se estabelece no momento em que a bolha de certa forma se rompe e tem contanto com o exterior através da forasteira Rose. Ela é uma mulher jovem e atraente que veio de fora para trabalhar um tempo na fábrica. Ela é diferente dos que estão lá, ela não está satisfeita com a vida que vai levar ali e não pretende demorar a sair da cidade e buscar novos horizontes.

A mise en scène contribui inegavelmente para que tenhamos sempre a sensação de solidão. Desde o começo a cidadezinha é mostrada em planos gerais que nos permite observar um deserto de neblina. Martha sempre demonstra interessar-se muito por kyle. No carro pergunta a ele como vão as coisas, como vai a família. Ele, por outro lado, não parece animar-se muito para conversar com ela. A carência de Martha é facilmente perceptível desde o começo. Pressupomos que seja assim todos os dias. No café da manhã Martha resolve que quer tirar uma foto do amigo ali mesmo na padaria reforçando o valor que ela atribui a essa amizade. A fábrica onde trabalham também nos é apresentada com longos planos gerais. Nos sentimos acometidos pelo tédio quando os personagens estão trabalhando. Como Martha, por exemplo, no seu meticuloso dever de colar os cílios das bonecas. Nada mais justo do que ter ali uma fábrica de bonecas que é uma metáfora da própria vida desses trabalhadores que vivem apenas em função de existir e tampouco farão falta quando deixarem de existir.

Os destinos desses personagens na trama nos parecem já pré-determinados, mas na verdade nos surpreendem. Rose pede para Martha se ela faria o favor de cuidar de sua filha enquanto ela estiver fora à noite. Durante cena toda em que Martha já está na casa de Rose e descobre que ela vai sair com Kyle, fica sentada no sofá despercebida. Naquela noite Rose é assassinada no próprio apartamento. Depois disso tudo começamos a lembrar que Martha existia, é como se tudo fizesse sentido e ela tivesse motivações para ter cometido o crime. Ela parece tomar proporções de um personagem sujeito como antes era Rose. Nos simples detalhes que percebemos a rivalidade quase encoberta das duas mulheres. Como na cena que quase nos foge de vista, quando Martha olha através do vidro da porta para Rose e Kyle fumando, Rose a vê e elas trocam um olhar.

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