sábado, 28 de junho de 2008

Joki - Felipe Tavares





Direção: Jarmo Lampela
Finlândia – 2001
104min





Sentado na poltrona de Ingmar Bergman no cinema do CIC, pude me sentir mais à vontade para assistir “Joki”, ou “O rio” em português. Nenhuma experiência poderia ser mais escandinava do que essa. Sentar a frente de um filme Finlandês numa poltrona de um diretor Sueco.

Pois bem, em relação ao filme propriamente dito posso imediatamente demonstrar uma semelhança narrativa evidente de “O rio” com o cinema latino-americano. A despeito da distancia geográfica entre os povos sul-americanos e escandinavos imaginava também que havia diferenças gritantes entre as narrativas daqui e de lá.
Bem, não foi exatamente assim que percebi.

O filme tem um cuidado especial com a duração dos planos e apresenta muitos diálogos, isso sim. Mas não é tão nostálgico e devagar quanto o cinema “Bergmaniano”, que nos mergulha numa profunda análise existencial sem ao menos se preocupar com a longa duração de planos de paisagem, planos que o cinema hollywoodiano provavelmente reduziria. Mais ainda que Bergman nessa profunda “análise da alma humana”, esta Tarkovsky que nos insere totalmente numa expiação interna de nós mesmos com uma narrativa lenta e cores acinzentadas. É óbvio que Tarkovsky não é tão facilmente presumível assim, mas o que tento fazer aqui é uma ligação do tempo da imagem com a interpretação que fazemos desse tempo.

E essas estéticas diferenciadas de gerenciamento do tempo podem não significar apenas, reduzir a interpretação que fazemos de tal plano, mas sim, abrir um leque de interpretações muitas vezes inter-relacionadas entre si. Diretores experientes como Bergman e Tarkovsky sabem muito bem o que fazer com o tempo. A única coisa que falta absolutamente é o olhar educado do espectador.

O filme apresenta múltiplas narrativas que se cruzam durante o filme e são pontuadas pelo que parece ser o estrondo de uma aeronave ultrapassando a barreira do som. São seis as estórias que se encontram em meio a decepções, desilusões, amor, esperança e morte, e têm como foco, problemas e emoções da vida humana.

A jovem Anni que decide se afogar no rio com seu bebe nos braços. O garoto homossexual Santeri que fica no dilema de pular ou não pular de bungee jump como motivo de auto-aceitação. O estranhamento entre o pai e o filho músico Esa que só aparece em casa quando quer dinheiro. A funcionária da pizzaria que não tem coragem de dizer ao patrão o quanto gosta dele. A senhora Milha que vê seu marido morrer no hospital. Os dois meninos que salvam Anni.

De alguma forma as estórias estão inter-relacionadas, seja pela proximidade física e emocional entre os personagens ou seus eventuais e despretensiosos encontros e desencontros.

Por fim, faço ai uma ponte de “Joki” com a “trilogia da morte” do Mexicano Alejandro González Iñárritu que apresenta a mesma estrutura narrativa de congruência entre histórias paralelas provocada por algo ou alguém. A trilogia composta por “Amores brutos”, “21 gramas” e “Babel”.

Formas contemporâneas de colapso na comunicação humana, tragédia e a esperança são os temas comuns que permeiam esses filmes.

No fim das contas, não estamos tão distantes assim quanto a nossos anseios, questões existenciais e a vontade de comunicação.

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