domingo, 29 de junho de 2008

Beleza Americana - Lucas Niero



American Beauty
Direção: Sam Mendes
EUA – 1999
121min



Beleza Americana se destaca em meio à produção contemporânea mundial. Não deixa de ser um filme com estrutura clássica do cinema comercial dos Estados Unidos. É um filme com todas as características do cinema de lá, produzido com muito dinheiro, atores famosos e com projeção em todos os cantos do planeta. Críticos e público muitas vezes divergem sua opinião, e diferente do que costuma acontecer nesses casos, existe um acordo entre ambas as partes sobre este filme, a maioria o aprova.

Partindo do ponto de vista do patriarca mal-sucedido Lester Burham, logo no início da projeção somos apresentados a uma cidade, aproximando um pouco mais, vemos um bairro e logo depois uma rua com várias casas com o padrão de vida típico daquele lugar. No início também temos acesso a uma informação importante, sabemos que desde aquele momento o protagonista está morto e que a história do filme narra o seu último ano de vida. O filme não é sobre este personagem, ele é apenas um instrumento que desencadeia uma rede de relacionamentos muito maior. Lester vive com a esposa Carolyn e a filha Jane, as duas o consideram um fracassado, ele mesmo o considera um fracassado. A casa ao lado acaba de ser alugada pela família do Coronel Fitts, composta por ele, a esposa e o filho, Rick. Angela Reyes estuda na mesma escola que Rick e Jane, e é sua melhor amiga. O roteiro avança de acordo com as experiências vividas e de relações constituídas por esses personagens. Lester apaixona-se por Angela, Carolyn trai seu marido com seu maior concorrente na área de corretores de imóveis, Rick e Jane se envolvem e muitas outras relações importantes ocorrem em paralelo.

Beleza Americana é sobre identidade. Identidade de uma família perfeita que ao enxergarmos de perto percebemos o desgaste causado pelo tempo. Identidade de pessoas que não conseguem ser aquilo que representam e identidade de uma nação que exporta seu estilo de viver, mas que olhando de perto percebemos o quão cheio de falhas aquele lugar é. A seqüência principal em que o saco de lixo voa em círculos torna-se ilustrativa nesse aspecto, o momento em que aquela ação ocorre poderia passar despercebido, mas através de um ponto de vista especifico, no caso o de Rick, torna-se importante e belo.

Tudo o que pode ser visto na tela acrescenta algum efeito dramático. Todos os objetos, arte e conjunto de luz ilustram algo que pode ser interpretado nas entrelinhas. A mais óbvia das metáforas diz respeito à flor que do título ao filme, American Beauty é seu nome no idioma original. A flor vermelha e perfeita não possui espinhos e nem cheiro, é uma clara referencia ás pessoas daquele país, ao vazio existencial daquela classe consumidora. A flor está presente em vários momentos, e quando não está, algo no mesmo tom de vermelho remete a sua existência.

A direção de arte ficou encarregada de construir a perfeição, tudo é perfeito, nenhuma folha seca parece imperfeita. A simetria usada em alguns planos também acentuam essa sensação de que tudo está no devido lugar. Em contraponto, o roteiro e a atuação evidenciam as falhas citadas anteriormente. No início, todos os personagens são infelizes, até o momento em que confrontam-se com seus desejos, e mesmo assim não conseguem os realizar. Os enquadramentos e a trilha sonora seguem convenções clássicas, um bom exemplo são as seqüências de Lester em seu local de trabalho. No momento em que ele precisa fazer um relatório para manter-se no emprego, o enquadramento é plongée, isto é, vai de cima para baixo, o tornado inferior ao seu chefe. Já quando ele entrega o relatório e se demite, o enquadramento é o oposto, contra-plongée, vai de baixo para cima fazendo com que ele pareça superior.

Beleza Americana transforma seus personagens de arquétipos a seres mais complexos, exibem uma identidade, uma postura firme, mas ao termino do filme, mostra o que realmente são. A ninfa loira transforma-se em uma virgem insegura, o coronel durão revela sua homossexualidade e olhando mais de perto, presenciamos o sorriso da garota que se veste de preto e está sempre triste. O roteiro é irônico, ao ilustrar outra identidade para seus personagens, metaforicamente ilustra outra identidade para aquela nação.

Nenhum comentário: