sábado, 28 de junho de 2008

Não Amarás - Nataly Callai




Krótki Film o Milosci
Direção: Krzysztof Kieslowski
Polônia – 1988
86min

Um plano detalhe de um membro (iremos descobrir, a posteriori, se tratar do pulso do protagonista) enfaixado. Uma mão tenta tocar o curativo, outra mão impede, retirando a primeira com leveza. Eis a primeira imagem que Kieslowski nos oferece. Em seguida, o que vemos são cenas que dão conta de explicar que o personagem roubou a luneta, com a qual passará as noites observando a vida de sua vizinha; precedidas de algumas cenas dela em sua casa.

Em tempo: Não Amarás conta a história de um jovem, Tomek, tímido e solitário, que desenvolve uma obsessão por sua vizinha, uma mulher mais velha. Passa as noites na janela de seu quarto, observando através de uma luneta, o cotidiano do objeto de sua obsessão. Apaixonado, começa a arquitetar planos para que seus destinos se cruzem. Consegue. Um e outro encontro mais ou menos mal sucedido, e os dois pulsos cortados.

A seqüência de cenas iniciais, não é só uma introdução para o que veremos a seguir (quem são os personagens, qual o conflito), mas é também uma síntese do filme. O espectador já tem ali a informação, mesmo que só vá assimilá-la no decorrer da narrativa, de que a história não acaba bem, por exemplo. Depois da tragédia, no entanto, o filme oferece um consolo: na cena final temos a vizinha no quarto de Tomek (a mão que tenta tocar o curativo), demonstrando preocupação com o frustrado suicida. E olhando através da luneta para o seu apartamento; olhando para si mesma com os “olhos” de Tomek. Afora o começo em media res, a narrativa do filme segue linear.

É através do protagonista que temos acesso a quase todas as ações do filme. São basicamente apenas quatro personagens: Tomek, a senhora que mora com ele, a vizinha, e um homem que freqüenta a casa da vizinha. O que sabemos desses outros três personagens, são resultado da interação de Tomek com eles. Quase tudo que é permitido ao espectador saber, Tomek também sabe.

Obviamente não se trata de um filme clássico, embora seja possível falar em um encadeamento das cenas por causa e conseqüência. No entanto, Tomek e a vizinha são imbuídos de complexidade, tal e qual a relação que constroem. Suas motivações nunca ficam tão claras.

Não amarás é sobre solidão, sobre “não pertencer”, sobre desespero. Pedir um romance, como Tomek pretende, parece desde sempre, mesmo para o espectador, demais. A impossibilidade dessa relação se dá a cada momento; o que se quer é que os personagens se encontrem, não necessariamente um ao outro, mas a si mesmos.

A narrativa é apenas um dos elementos que ajudam a construir esta obra, vários outros seriam dignos de menção. Não amarás já se tornou um clássico; assistir a ele deveria se tornar mandamento.

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