sábado, 28 de junho de 2008

Irina Palm - Lucas Niero



Direção : Sam Garbarski.
Bélgica / Luxemburgo / Inglaterra / Alemanha / França – 2007
103 min



Já aconteceu algumas vezes de eu ir ao cinema sem saber nada a não ser o título da obra, fiquei surpreso com a qualidade de alguns filmes e decepcionado com o tempo gasto com outros. Filmes como A Casa Vazia, de Kim Ki-Duk, Eu, Você e Todos Nós, de Miranda Julye e O Cheiro do Ralo, de Heitor Dhalia, me surpreenderam com suas abordagens. No último mês assisti o excelente O Banheiro do Papa de César Charlone e Enrique Fernández para a apresentação de uma tese, ao termino desde, resolvi ficar para a próxima sessão, um filme chamado Irina Palm, até esse momento eu nem sabia de sua existência.

Irina Palm desenvolve sua linha narrativa a partir de um drama familiar. Na Inglaterra, Maggie é uma viúva já em seus cinqüenta anos, cuida de seu neto vítima de uma doença fatal. Seu filho e sua nora também estão ali, todos preocupados com a saúde do garoto. Ele precisa de um tratamento no exterior, mas o custo da viagem revela-se inviável para a família. Já desacreditada com a situação, Maggie caminha pelo centro da cidade onde se depara com uma oferta de emprego. Sem escolha, ela decide trabalhar para pagar o tratamento do neto.

A carga dramática exibida no primeiro ato do filme, assim como a representação péssima do elenco, não deixa nada a desejar na comparação com novelas latino-americanas. As expressões sofridas e os diálogos gritados são comparáveis às personagens sempre iguais de Regina Duarte. Neste momento eu já pensava em levantar para ir embora, ficava imaginando como aquela falta de talento conseguiu virar um filme. Mudei completamente de idéia assim que o segundo ato começou. Eis a surpresa que mencionei antes, não que eu tenha gostado do filme em si, mas esse primeiro clímax me deixou perplexo, acreditando agora que toda a atuação ruim de antes fosse proposital.

O lugar em que Maggie começa a trabalhar é uma casa de prostituição, que nada combina com uma viúva com mais de cinqüenta anos. Graças a suas mãos macias, a função que ela exerce é a de masturbar homens. Fica a noite toda dentro de uma sala com um furo na parede, ela de um lado e os homens do outro. A avó se destaca, é agora a atração mais procurada, filas se formam a procura das mãos macias. Influenciada por seu chefe, Maggie adota um pseudônimo, torna-se Irina Palm.

O filme transforma-se talentosamente de um melodrama para uma bem sucedida comédia. Mesmo com uma abordagem naturalista, a narrativa não é nem um pouco verossímil, e isso não prejudica em nada seu desempenho cômico. A mesma empatia que sentimos pela avó também sentimos por Irina Palm, e essa inverosimilhança é justamente o que surpreende. No terceiro ato, o filho de Maggie a segue e consequentemente descobre Irina Palm. É de se esperar um discurso moralista em uma historia como essa, mas isso não atrapalha o tom cômico, na verdade até acrescenta seqüências divertidas. Pode-se dizer que o moralismo nesse contexto é que menos importa.

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